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17 de dez. de 2013

Olhos...

Warrior (DL)

Ela amava a viagem no trem, talvez devido ao fato de eles passarem por várias florestas com um verde surpreendente, mesmo que elas parecessem um vulto. Ela pegou o gato no colo e ficou fazendo carinho no pelo escuro e macio. Ela ficou presa no mundo dos olhos verdes do gato, imaginando como não deveriam ser a vida vista por aqueles olhos. Assim ela adormeceu, sem nem ao menos perceber, em uma cabine solitária de um dos vagões.
- Olá? - um rapaz bateu na porta de vidro do vagão, acordando-a. Ao olhá-lo, ela reparou nos olhos. Olhos verdes não eram comuns, não são comuns, e ela desejou naquele momento que fossem proibidos, para que pudesse parar de olhar neles. - Desculpe-me por tê-la acordado.
- Tudo bem. - ela respondeu, um pouco sem graça por ter dormido sentada e com as pernas ocupando todo o banco. Seu gato dormia em seu colo tranquilamente, e ela sacudiu a cabeça.
- Tem alguém sentado aqui? - apontou para o banco vermelho vago à sua frente. - Porque o vagão está lotado, este foi o único lugar que achei.
- Não, pode ficar aqui. - ela rapidamente voltou à uma postura aceitável e tirou o gato da saia, pondo-a de forma a cobrir o joelho.
- Não está esperando ninguém? - o rapaz perguntou, olhando para os lados no corredor, e ela negou com a cabeça imediatamente. - Ótimo, detesto ser estraga-prazeres. - ele finalmente sentou-se. - Desculpe-me senhorita, por esta indelicadeza, mas o que faz viajando sozinha? - perguntou com um sorriso amigável.
- Vou em busca dos meus pais. - respondeu, e desejou ter se calado logo em seguida. O lugar por onde o trem passava era frio, e ela conseguia ver uma nuvem quente saindo a cada palavra sua, lembrando-a de que ela não possuía roupas para o clima, ao contrário do rapaz completamente confortável à sua frente. - Na verdade, eu sou adotada, quero descobrir a minha família. - tirou uma mecha do cabelo escuro que pendia entre os olhos. - E você?
- Vou visitar uma pessoa especial.
- Sua noiva? - ela perguntou, se repreendendo por estar conversando informalmente com um estranho em um trem. E por ser tão indiscreta.
- Minha irmã. - ele abriu mais o sorriso, analisando-a com seus olhos perfurantes. - Você tem um gato preto?
- Sim. O nome dele é Pluma. - respondeu, alisando o pelo escuro do gato, sem perceber que o rapaz à sua frente estava com os olhos cheios de animação pelo bichano. - Você gosta de gatos?
- Sim, mas primeiro me responda... - ele começou em um tom sério. - Não tem medo de gatos pretos? - a feição séria se desfez em uma risada alegre, que preencheu o lugar juntamente com a da garota.
- Não sou uma fã de superstições. - ela respondeu.
- Temos uma cética aqui? - o rapaz brincou novamente, e ela negou com a cabeça. - Eu poderia...
- Ah, claro. - ela entendeu que ele gostaria de segurar o seu gato, e pegou-o com cuidado para que ele não caísse. Entregou o gato para o rapaz à sua frente, que pegou a início um pouco sem jeito, mas depois sorriu abertamente (como já estava virando costume) ao ver o bichano abriu os olhos. - Você é sempre assim?
- Assim como? - ele perguntou ainda distraído em brincar com o animal em seus braços.
- Sorridente, aberto com completas estranhas.
- Nunca reparei nisso. Você é sempre agradável com pessoas que te acordam do nada? - ele perguntou, novamente a encarando com seus olhos proibidos.
- Na verdade, isto nunca aconteceu. - ela admitiu, achando a conversa sendo a mais divertida (quase a única) que já tivera com um garoto, devido ao fato de sua mãe adotiva a manter tão casta a ponto de quase não falar.
- Sabe, eu menti sobre o vagão lotado. - ele confessou, não demostrando a mínima culpa. - Mas quando a vi aqui, tão sozinha, vi em você uma amiga.
- Nada que eu não tenha desconfiado - ela se permitiu rir. - Com um trem praticamente vazio e horas de viagem, ninguém resistiria à minha beleza. - ela abanou o rosto teatralmente, sem acreditar em nenhuma palavra que dizia, fazendo-o gargalhar junto com ela.
- Não, sem dúvidas. Mas por que decidiu ir em busca do seu passado em meio à uma guerra?
- Eu entraria em guerra comigo mesma se não o fizesse.
- Isso realmente explica o que uma bela garota está fazendo saindo do campo para a capital em meio à tantos bombardeios.
- E nada me tira da cabeça que você tem uma pessoa especial lá. - rebateu.
- Você não desiste, hein? - o rapaz respondeu, usando a mão livre para mexer no cabelo.
Os dois passaram as várias horas, que pareciam ter sido apenas minutos, da viagem conversando sobre a vida de ambos. Ela falava sobre a vida pacata da cidade onde crescera e ele sobre a agitada vida da capital, e a razão por ter ido para o sul do país. Quando o trem parou na estação da capital, eles se despediram e foram embora como completos estranhos, mas ambos nunca tiraram da memória a amizade que fizeram naquela cabine.
Era impossível esquecer aqueles olhos claros, limpos e proibidos.

4 comentários:

  1. O texto ficou lindo *O* acho q ele deveria ter uma continuação dizendo oq aconteceu com os dois depois desse encontro no trem
    Mas acho q essa é a graça do texto,vc ficar imaginando oq poderia ter acontecido depois disso *3* eu amei
    ~September Rains

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    1. Eu também acho, mesmo sendo péssima em continuações... Este mesmo já é uma continuação de outro. Eu tenho uma versão (estava muito longa e não publiquei e.e) onde o final era mais "feliz"... Que bom que gostou ^3^
      Beijos

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  2. É possível fazeres um texto que não me deprima? Eles tinham mesmo de nunca mais se verem?
    querosabertudo-k.blogspot.com

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    Respostas
    1. Eu não disse que eles nunca mais se viram, MUAHAHAHAHA. Acho que é possível, mas eles são feitos de acordo com o que eu sinto no momento... Quer dizer, sabe-se lá o que acontece depois, pra mim eles se encontraram algum dia em algum lugar...
      Beijos

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