A estranha sensação de utopia

Eu estive num lugar onde você nunca esteve. Um lugar cujas cores não importavam, não se distinguiam, apesar de serem diferentes. Eu visitei a terra em que a música é a mesma, mas os ouvidos preferem coisas diferentes, e nenhum deles nunca é esquecido. Eu estive em um lugar em que os sonhos são reais, e você sonha o tempo todo.

Nele as florestas são carregadas de criaturas fantásticas, as pesadas nuvens de chuva são como uma bênção, os dias ensolarados são como pequenas dádivas tocando sua pele, atravessando para a sua alma. Eu estive em um lugar em que o medo era desnecessário. Eu não precisava mais de livros porque as histórias aconteciam lá, e eu estava bem. 

Eu estive em um lugar em que não era necessário dinheiro ou afins. A comida só vinha quando quisesse, não quando necessária. A poesia era desnecessária, pois todos tinham sua beleza em si. A palavra utopia não possuía significado, porque não havia um oposto a ela.

Naquele lugar, a tristeza vinha, confesso, mas nunca detestei a tristeza. Sempre fui uma amante das lágrimas, aquelas de felicidade, as de tristeza, de raiva, as inexplicadas, porque elas transmitiam o sentimento que não conhecemos.

Eu estive em um sonho, fui habitante deles. Eu vivi em um lugar fantástico, era parte da sua felicidade. Eu senti como é ser amada, como é sorrir infinitamente. Foi o momento em que a felicidade não me enojou, porque quando eu precisava, vinha a sua dose de pesadelos.

No lugar em que você nunca esteve, os pesadelos eram necessários, porque sem ele nós não teríamos aprendido a valorizar a paz. Os pesadelos estavam lá porque quando acordávamos chorando e gritando sem explicação, havia um ombro amigo.

Nos dias em que eu estive naquele lugar, acordei logo depois, lágrimas nos olhos, sorriso em todas as partes do corpo. Eu não vivo mais naquele lugar, mas tenho a sensação de que quando eu dormir voltarei para lá. E quando acordar, saberei transmitir o sentimento.