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21 de mar. de 2014

1. Dias

essa foto, para mim, é a Grace encarnada na Kaya


Nota inicial:
Eu pretendia fazer um post intermediário, entre um capítulo e outro, porém houveram alguns contratempos na minha semana que me impediram de postar (minha saúde é uma caquinha), mas enfim, esse é o primeiro capítulo de verdade e estou mais do que ansiosa para que leiam.
O dia de Grace começava sempre igual, seguindo uma norma que não podia ser chamada de rotina. Ela o chamava de “prisão particular”, porque seguia horários regrados, com refeições regradas, banhos regrados, seus banhos de sol regrados, cada passo que dava era regrado. Acordava às quatro da manhã, tomava seu banho de desintoxicação – como se fosse pegar alguma doença nas oito horas em que dormia –, era vestida e levada para ser pesada e medida, tomava a dose matinal de injeções, e quando acabava, eram cinco e meia. Nesse momento, era deixada em paz por meia hora, quando fugia – levou um tempo para aprender como abrir as portas de proteção da mansão Z, mas ela finalmente conseguira – para observar as pessoas na rua.
E meia hora depois era levada de volta para dentro, à força. Até aquela fuga virara rotina de Grace, que sempre era advertida e punida ao voltar para dentro. A punição lhe dava meia hora a menos de sono – sete e meia –, mas já era fraca para ela, que se acostumara. Às seis horas, tomava café da manhã, separada dos demais cientistas, para não correr o risco de qualquer contágio. Seis e vinte, recebia a visita diária de seu pai – que tinha que ser quase totalmente “embalado” para não oferecer risco algum à Grace –, que durava cerca de dois minutos. Ele sussurrava ao ouvido de Grace a mesma coisa que quando sua mãe havia morrido, dez anos antes.
Você é uma garota boa, Grace, você é uma garota boa.”
Seu pai era levado dela, e Grace era levada para a sala de testes, onde passava o resto da manhã. Desde o dia em que foram feitos os testes – exatos 277 dias antes daquele – nela, e os cientistas encontraram o gene que buscavam em seu sangue, Grace foi enclausurada – ou acolhida, como dissera a assistente social que a chamava para acordar, tomar banho, café da manhã, a que sempre lhe passava o sermão, sua mãe dentro da mansão Z – no quarto mais protegido da mansão, e nunca mais teve a vida como antes.
Passara a vida toda recebendo as moléculas radioativas que eram inseridas secretamente nas vacinas, para depois ser testada. A radiação inserida no sangue servia para ativar as habilidades que eram procuradas, mas apenas em Grace foram descobertas todas.
- Força, velocidade e a habilidade telecinética naturalmente desenvolvida – fora o que Savannah, a assistente social, a dissera ao levar-lhe a sua cela quarto pela primeira vez.
- Tele o quê? – Grace perguntara.
- Ainda que pequena, possui uma habilidade de manipular certas coisas. Isso será útil contra o que estamos combatendo.
- Mas doutora, o que estamos combatendo?
- Grace, não me chame de doutora, sou uma cientista. Nós, a elite da comunidade científica? Estamos combatendo uma bactéria que ameaça acabar conosco. A radiação da vacina não serve apenas para aflorar os poderes que formam a arma Z – ela olhou sugestivamente para Grace – Serve para ajudar a manter essa ameaça longe, mas nossos esforços não são suficientes. O mundo está acabando, e por isso, precisamos executar esse último plano.
- Mas onde eu entro? – Grace franziu a testa.
- Você é a primeira de uma raça que não será afetada pela bactéria, uma minoria sobrevivente humana. Usaremos seu sangue para fazer medicamentos que tornarão outras pessoas como você, e então... – Savannah não completara, deixando Grace assustada, porque ela entendera. Quando não fosse mais necessária, Grace seria eliminada. – Este é seu quarto. Virei busca-la para o jantar as seis em ponto, esteja pronta.
Desde aquele dia, Grace apenas observava. Observava como as coisas se desenrolavam na Mansão Z. Observava como os cientistas retiravam o seu sangue, tiravam fotos dela como de um prisioneiro, mediam seu peso e tamanho, três vezes por dia, examinavam suas excreções, como os seguranças abriam as portas de ferro que a prendiam, e principalmente, observava a vida exterior em meio aos poucos momentos roubados que possuía. Grace apenas não observava que estava construindo um muro ao seu redor, ou as mudanças constantes em sua aparência.
À uma da tarde, Grace almoçava novamente sozinha, mas dessa vez, em seu quarto, sendo vigiada por dois médicos e por Savannah, que se certificavam que ela comia a dose certa, nem mais, nem menos. Grace havia perdido 13 quilos nos últimos meses, e sabia disso, assim como conhecia a dieta de, quando era uma garota livre, lera algumas matérias – que nunca seguira –em tumblrs de alimentação anoréxica, que se nutriam do essencial. Ela ingeria apenas o essencial para manter-se viva, mas fraca, para nunca ter a oportunidade de fuga.
Uma e meia, Grace era levada para exercitar as habilidades – consequentemente, queimando as poucas calorias ingeridas no almoço – em uma sala preparada para ela. Quando não correspondia as expectativas da equipe – psiquiatras, médicos, cientistas e analisadores do governo que visitavam a Mansão Z uma vez a cada quinze dias –, Grace passava mais meia hora treinando, mais meia hora tirada do seu sono.
Cinco horas, Grace era liberada para perambular pela extensa biblioteca da Mansão Z, e fugia para observar a avenida por cima dos muros.
Cinco e meia, Savannah suspirava ao notar que Grace sumira mais uma vez, se impressionando com a falta de desistência da garota.
Seis horas, Grace era arrastada de volta. Mais meia hora de treinamento. Seis e dez: Grace jantava. Seis e cinquenta Grace descansava.
Sete horas, Grace treinava.
Nove e dez: Grace era pesada e medida. Dez minutos depois tomava mais um banho.
Nove e quarenta: Grace dormia.
Quatro horas, Grace acordava.
Outro fatídico dia.

Nota final:
O dia estabelecido para postagens da fanfiction é sexta-feira, bônus postados no meio da semana, caso haja. Essa é uma espécie de apresentação ao mundo de Grace, que é a garota do texto, como podem deduzir. É difícil deixar que alguém além de mim conheça essa personagem tão especial, ela é minha pequena filha, embora seja explorada superficialmente aqui.

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