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12 de abr. de 2014

04. Coincidências infames


No dia 283, Grace tomou café da manhã com duas pessoas a mais além de Savannah regulamentando sua alimentação. Morgan, no outro lado da sala, parecia não estar acostumada a dormir aproximadamente oito horas por noite, ou menos, devido às dores das primeiras injeções. Também devia haver alguma perturbação psicológica devido ao fato de ser aprisionada sem aviso prévio. Mas Grace também tinha seus problemas, como o fato de que a substância causadora do sofrimento da outra garota era feita do seu próprio sangue. Claro, ela sabia, através de Savannah, que seu sangue seria usado para fazer a vacina curativa da bactéria. Também havia o fato de que nunca ouvira falar da IvSoh antes de ser transformada em uma arma contra – o que o governo não fazia com as vítimas da doença? Era horrível pensar nisso –, nunca havia manifestado nenhuma amostra de seus poderes antes de descobrir do que era capaz... Nunca havia sido nada além de excepcionalmente normal antes de tomar conhecimento do Plano Z.
Seu pai não foi vê-la como de costume. Conhecendo o regime do lugar, Grace temeu que algo pudesse ter acontecido a ele, mas logo foi distraída pela enxurrada de testes que se seguiram. Retiraram mais e mais DNA dela, assim como de Morgan, que, Grace não percebia, mas estava começando a se curar, muito lentamente. O cabelo que estava caindo mais e mais começava a crescer, embora em um tom mais rubro do que antes, e a garganta voltava ao normal. Apesar disso, a doutora Hernandez – na verdade, uma das várias agentes infiltradas em escolas por todo o Ocidente – sabia que a bactéria continuava a progredir.
Com os exercícios, Grace surpreendeu-se ao ter avançado em 10% em relação a dois dias antes – sem meia hora de treinamento tirada do seu sono dessa vez. Havia algo diferente naquele dia, e esse pensamento foi confirmado na sua cabeça quando, ao passar pelo saguão principal para a sua escapada diária, ouviu a doutora e Savannah discutindo em alto e bom som. Invisível, Grace seguiu a voz e espiou enquanto as – aparentemente – velhas conhecidas discutiam.
– Morgan está perdendo peso subitamente. Perdeu 5 kg de uma vez só, e entrou aqui ontem! E se ela...
– Não pense nisso, Sofia – Savannah retrucou – Não pode estar acontecendo com ela o que aconteceu com a... – olhou em volta e tapou a boca – Você sabe. Grace também está me preocupando, os olhos dela...
– Talvez Morgan a esteja infectando – a médica balançou a cabeça negativamente.
– Se Grace morrer, ou pior, ficar infectada, lá se vai a nossa última esperança. Serão sete planos à toa, Sofia – Grace parou um pouco para raciocinar. Se aquele era o plano Z, então houve 25 antes dele, não sete. Havia algo que estavam escondendo dela, e não era algo bom – Toda a humanidade está ameaçada, não vou deixar a cura morrer por causa de uma adolescentezinha infectada.
Adolescentezinha infectada? – Sofia repetiu incrédula – Eu esperava mais de você, Savannah. Além do mais, já estão matando-a.
– NÃO ESTAMOS MATANDO-A! – Savannah gritou com tanta força que poderia fazer a terra tremer. Mas não a terra da Mansão Z.
– Desnutrição, esgotamento físico e mental, poucas horas de sono, medicamentos excessivos... Estão fazendo errado. Além disso, ela sabe que vão mata-la depois?
– Não vamos mata-la. – Savannah baixou a cabeça – Eu e George estamos... – Grace quase chegou mais perto ao ouvir a menção do nome do seu pai, mas Savannah novamente fez um sinal de negação – Deixe para lá. É outro assunto, não devia se intrometer nisso.
Grace se sentiu tonta após ouvir aquela conversa agonizante. Ela precisava entender o que elas estavam falando, e entenderia, de uma forma ou de outra. Começou a cambalear, pôs a mão na cabeça, e mal percebeu quando ficou visível, porque já havia caído inconsciente no chão.
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– Olá – Grace ouviu ao abrir os olhos e dar de cara com o teto branco da enfermaria da Mansão, nunca antes visitada. Acostumando a audição, conseguiu distinguir o som de duas máquinas que mediam a pressão, fazendo um “bip” intenso. Olhou em volta a procura da pessoa que havia a cumprimentado, mas não conseguia virar-se muito bem, devido a um tubo prendendo-a e à agulha intravenosa no seu pulso, que a impedia de acenar. – Hey, aqui – virou-se para a esquerda, conseguindo ver Morgan, também presa a uma cama de hospital.
– Ah – murmurou e tentou acenar, esquecendo-se do braço preso, sentindo uma forte pressão. – Olá – observou o que havia no seu tubo, e surpreendeu-se ao constatar que ao invés de soro, estava sendo injetado nela um dos remédios que davam para Morgan, o seu próprio DNA.
– Eu sou Morgan – a outra tentou acenar, também não conseguindo, mas esboçou um sorriso. Grace quis responder “Eu sei”, mas isso implicaria explicar o motivo, tudo o que ela menos queria no momento.
– Grace – tentou sorrir amigavelmente.
– Então, Grace, você é a garota a quem eu não deveria infectar? – Morgan arqueou uma sobrancelha, fazendo Grace ter vontade de rir.
– Acho que sim – admitiu, sorrindo um pouco – Na verdade, só o seu olá já deveria ter me matado – Grace sorriu involuntariamente ao ouvir o som engraçado da risada de Morgan com aquela frase, mesmo sabendo que não era verdade.
– O que a traz aqui?
– Desmaio no saguão – Grace tentou dar de ombros, logo depois se arrependendo disso.
– Desmaio na biblioteca – Morgan respondeu a pergunta antes mesmo que Grace pudesse pronunciá-la.
Savannah e a doutora Hernandez entraram logo em seguida, acabando com a conversa. Por mais que tentasse prestar atenção nas perguntas que Savannah lançava – e o quanto ralhava com ela, querendo saber o que a garota fazia bem no meio do saguão –, Grace tinha a mente na conversa que tivera com Morgan, e na coincidência que ocorrera com as duas.
Só esqueceu um pequeno detalhe.

Coincidências não existem.

Um comentário:

  1. Awn, que meigo seu blog! Só não li o post pq quero ler desde o capítulo 1, parece ser bem legal! Eu li o prólogo e adorei ♥ Nunca li fanfics, vou começar, pq todo mundo fala que é legal e tals hahahah Mas enfim, to apx pelo seu blog, eu li o texto da alice, adorei, você escreve muito bem, e é bem criativa! Ai, como eu queria esse talento hahahahha

    beijos, @wonderlandwd
    official-wonderland.blogspot.com

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