Qual a graça da vida?

Estamos sentados na mesa, eu comendo um espaguete, meu pai também e minha mãe bebericando uma sopa instantânea. Ela acabou de chegar da casa da minha tia-avó e encontrou o meu avô adotivo no caminho, mandando-o ir para casa, porque minha avó está sozinha e cansada.
O que ela sempre fala, e eu não duvido que seja verdade. Apenas, apenas...
"Uau, é isso, não é? Você vive desde criança fazendo tudo o que faz porque está treinando para ser adulto, e quando é adolescente, estuda apenas para isso. Quando é adulto, você precisa de um "futuro", um trabalho. E aí se mata de trabalhar, cria dívidas e procura um cônjuge. Quando se casa, está trabalhando para se desatolar das dívidas, mandar o casamento pra frente e ter filhos. Quando consegue e tem filhos, ganha mais dívidas e só o que quer é criar aquelas crianças para que elas tenham o maldito futuro, para que elas se casem e trabalhem e saiam de casa. E quando elas saem de casa, você para de se matar de trabalhar e com as dívidas, porque já deu o tempo. Então é só você e seu marido e nada mais, porque o que mais existe? Apenas, quando finalmente consegue tirar aquele descanso na vida, está velho e cansado e a única pessoa que você tem por perto é aquele maldito bastardo do seu marido, que pelo visto, bebe por desgraça e é um quase-indigente que nem acerta como entrar em casa e está encostado no governo e... O que mais? Qual vai ser a graça de viver? Esperar por uma coisa, sempre. Quando você está mais velho, não há mais o que esperar, não é? Você precisa bater as botas para ir para o Céu no qual você acredita, mas quem quer morrer? A vida é um saco."
"De quem é?", minha mãe pergunta, e percebo que ela parou de olhar para o nada como sempre faz enquanto eu murmurava meu monólogo em meio às poucas garfadas.
"O quê?"
"De quem é isso que você falou?"
"De ninguém. Eu só observei", dei de ombros.
"É meio triste pensar desse modo."
"Não é triste. É só... Só isso."